O cheiro do quarto da mamãe.

Depois de mais uma noitada qualquer, volto pra casa, e o que mais desejo é estar no quarto de mamãe.

O perfume de mamãe era cítrico, mas, em sua pele se fazia doce. Acqua fresca tanto como sua cuca fresca.

Mulher forte, anjo, sábia, dona de uma beleza exótica, e passe o tempo que for, ela sempre estará bela. Se não bastasse tantas qualidades, ela ainda faz o melhor café do mundo. Adocicado. E não precisava nem anunciar que o café estava pronto, eu já sabia, o cheiro se espalhava pela casa toda, e nada era mais confortável do que isso.

Recordo-me que quando eu era pequena, ela dizia que eu era sua bonequinha japonesa, e das tantas vezes em que ela me disse "Você ficava no portão de casa olhando as pessoas, observando todos os movimentos da rua, e quando passa alguém, você sempre dava oi, e se a pessoa não retribuisse, você insistia. Sempre brincalhona, curiosa, e com esse sorriso largo."

Apesar de forte, sempre fui frágil, e ela sabia disso. Por isso, nunca me deixou só, quando eu caia pegava em minha mão firmemente e dizia que tudo ia ficar bem. Sou de riso e choro fácil. Ela não.

Mamãe me ensinou muita coisa sobre a vida e as pessoas, sua sabedoria era sem igual. Já passara por muitas coisas nessa vida, e por mais difíceis que todas elas foram, estava sempre de cabeça erguida, a mulher mais admirável que já conheci.

Confesso, sinto falta dos abraços de proteção que ela me dava, não queria ter crescido. Seja como for, eu sempre serei a boneca dos olhos puxados dela, e ela sempre será o meu anjo maior.

"Mãe, sinto falta de dormir no seu quarto, tinha - e ainda tem - um cheiro tão doce. O amor está exatamente ali."