Era em torno de 07:50 AM, prova de história, e eu não sabia nada.
Liguei o mp4, escolhi Nando Reis para ouvir, para ver se clareava a memória, mas, o jeito foi dar uma olhada na prova da vizinha. E me senti sortuda, pois quase todas as perguntas dela haviam sido respondidas. Mas, fui pega de surpresa, quando resolvi olhar para seu rosto, notei que era a garota simples de chinelo menor que o pé e cabelo mal cuidado, a qual eu nunca troquei sequer uma palavra. E olha que isso é difícil, já que eu converso até com os próprios cotovelos.
Ela fazia o tipo "menina-virgem", quieta, estudiosa, concentrada, e sempre desviava o olhar. Enquanto eu, era a "arreganhada", sempre brincando, sorrindo e observando tudo. Comprimentava desde os amigos até o diretor.
Mas, voltando ao pesadelo da prova de história...
Eu não sabia nada, e ela sabia tudo. Como isso era possível? O meu chinelo era do tamanho exato do meu pé, e o meu cabelo era hidratado, e além do mais, eu conversava com todo mundo. Porquê ela sabia e eu não?
E foi aí que me dei conta da gravidade do problema, pois, enquanto eu perdia tempo rindo e tagarelando, ela fazia silêncio e prestava atenção nas aulas. Como se ela fosse a certa, e eu, sempre a errada.
Eu nunca acreditei tanto nos meus erros à ponto de enxergá-los de verdade. Sempre me confortei, dizendo que não era tão mal assim. Mas, o tempo todo a vida me mostra, o quanto estou errada. Sinto como se tirassem a venda de meus olhos, e é aí que a luz aparece para me salvar.
O amanhã está logo ali, e se continuasse a ignorá-lo, eu veria todas as pessoas, das mais simples às mais sofisticadas, se tornando grandes profissionais, e eu talvez, fosse uma mera vendedora em alguma lojinha por aí.
Pé de chinelo sou eu, ela vive no salto alto, só não vê quem não quer.
O meu maior erro talvez seja escutar Monóico do Nando Reis, em plena prova de história...